segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Tom Araya cristão
Essa postagem segue a mesma linha sobre o João Gordo do Ratos de Porão. Em 2007, numa entrevista, Tom Araya, vocalista da banda Slayer, se declarou cristão. Lembro que sua declaração me deixou sem chão na hora e busquei pelos quatro cantos da internet a veracidade das informações. O site que divulgou aqui no Brasil essa polêmica declaração foi o respeitável Whiplash.
Slayer é uma das bandas mais autênticas e fiés de som pesado que conheço. E mesmo por isso aprendi a ouvir Slayer "depois de velho". Sempre respeitei o estilo da banda, reconhecia seu peso (em todos os sentidos), mas era pesado demais pra mim. Sempre simpatizei mais com o Sepultura.
Meu primeiro CD que comprei foi "Kill 'Em All" do Metallica, lá na Discos e Fitas, no Vip's. Era pra onde eu ia quando não tinha aula no Liceu. Chegava lá, às vezes, antes da loja abrir. Depois comprei o "Sabotage" (Black Sabbath) e, assim, o "Show No Mercy" do Slayer. Queria conhecer essa banda que todo mundo gostava e falava. Na época eu devia ter uns 14 anos. O som era extremamente pesado, as letras totalmente satânicas e na capa tinha um diabo com uma cabeça de bode, segurando uma espada e um pentagrama escrito Slayer no meio. Sente o clima. Ouvi algumas vezes e me desfiz do CD. Segue um trecho da letra da primeira música do disco que se chama: "Evil has no Boundaires" (Não há fronteiras para o Mau):
"Satan our master in evil mayhem
Guides us with every first step
Our axes are growing with power and fury
Soon there'll be nothingness left"
Tradução:
Satã nosso mestre no caos do Mau
Nos guia em cada passo
nosso machados estão crescendo com poder e fúria
daqui a pouco nada irá restar
Em 2001 o Slayer lança "God Hates Us All" e aí minha percepção do Slayer muda completamente. Um disco ainda no estilo clássico do Slayer, pesado, porém muito mais maduro e trabalhado e com letras muito mais inteligentes. As letras agora tinham um fundamento. Críticas à religião, à alienação, ao fanatismo e as ovelhas católicas/evangélicas. Tudo muito nietzscheano. Parecia óbvia a influência do livro "O Anticristo" de Nietzsche.
Sempre gostei de conciliar música boa com boas letras. Quando um ou outro deixa a desejar a coisa se perde. Lembro que em 2001 ouvia quase todos os dias e inclusive sabia as letras de cor das músicas deste álbum. E aí recomecei a ouvir os outros discos do Slayer. Lógico que agora com outra percepção.
Em 2007, navegando no Whiplash, leio a declaração que Tom Araya é religioso. Como assim? Isso mesmo. O frontman da banda ícone do Thrash Metal, Slayer, com suas letras pesadas contra o cristianismo e religiões, capas de álbum com sangue, diabo, pessoas mortas, pentagramas, cruzes invertidas, Cristo mutilado e viciado em heroína, era um homem de fé.
Vou colocar aqui trechos de duas músicas, já traduzidas, "Disciple" (Discípulo) e "New Faith" (Nova Fé), do disco "God Hates Us All":
Discípulo
"(...)Deus odeia todos nós, deus odeia todos nós
Você sabe que é verdade, deus odeia esse lugar
Você sabe que é verdade, deus odeia essa raça"
"(...)A beleza da morte nós adoramos
Não tenho nenhuma fé me distraindo
Eu sei porque suas orações nunca serão atendidas
Deus odeia todos nós, deus odeia todos nós"
"(...)Perdendo sua vida em um lapso de fé cega
Levante a cabeça, você não pode ignorar o que eu digo
Eu tenho minha própria filosofia"
Letra na íntegra aqui.
Nova Fé
"(...)Bem-vindo ao horror da revelação
Diga me o que você acha do seu salvador agora
Rejeito todas as visões bíblicas da verdade
Despeço isso como o folclore dos tempos
Não serei forçado a alimentar profecias
De um livro de inverdades de mentes fracas
Junte a nova fé para a celebração
O culto da nova fé enche a devastação"
"(...)Mantenho a bíblia numa piscina de sangue
De modo que nenhuma das suas mentiras possam me afetar"
Letra na íntegra aqui.
Depois disso tudo não soa estranho uma declaração desta de Tom Araya: "Eu nasci e cresci em um meio católico, então isto está em meu sangue. Eu não vou à igreja... Eu nasci e cresci católico, e é a isto que se resume a minha religião".
Que o Rock possui uma teatralização todos sabemos. Mas quando o assunto é mais sério, como religião, política, ideologias, etc, tendemos a estranhar. Uma coisa era o teatro de Jimi Hendrix colocando fogo na guitarra, ou Raul Seixas posando de maluco beleza; O The Who e o Nirvana, anos depois, quebrando guitarras no palco; Alice Cooper e David Bowie maquiados; Kiss mascarado; Ozzy com sua unha preta e capa de Príncipe das Trevas...
A questão que o Slayer também influenciou muitos. Principalmente os tontos do Black Metal, que viam em bandas como Slayer, Venon e outras, bandeiras ideológicas anti-cristãs e satanistas. Seria o mesmo que "ser punk" e na verdade ser um verdadeiro defensor do capitalismo. Ou ser do DEM e querer o Socialismo e a Reforma Agrária. Ou tocar numa banda de Skinheads pregando o racismo, a homofobia e a violência e ser negro e homossexual.
Não sou contra a mudança de opinião, na verdade acho muito saudável poder rever formas de pensar e se manifestar da maneira que for. Mas no caso do Tom Araya, parece que nada tem a ver com mudar sua forma de pensar. Na verdade ele já pensa de uma forma: ter fé, acreditar em Deus, etc. O equívoco é vender exatamente o contrário e levantar uma bandeira de uma coisa que não se é.
Segue o clipe de "Bloodline" do álbum "God Hates Us All" e o refrão traduzido abaixo. Assista o clipe, veja quanto sangue, o clima, o peso da música. No youtube tem os comentários das pessoas sobre o vídeo e um dos comentários que me chamou atenção foi: "con esta musica te dan ganas de matar a alguien".
Matarei você e seus sonhos hoje à noite
Começa a nova vida
Sangre sua morte em cima de mim
Deixe sua linha de sangue alimentar minha juventude
Apesar das controvérsias de Tom Araya, Slayer continua sendo uma grande banda. Única e com estilo próprio.
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2 comentários:
texto fantástico o seu, coeso e com muito senso porém eu discordo, eu acho que o ser humano possui um lado escuro e um lado de luz, as religiões pregam um deus conveniente e o slayer exalta o lado escuro do ser humano e expõem o deus das religiões acho que o tom araya ve deus assim como Einstein e Espinoza o veem, então não existe nenhuma contradição ae, ainda mais que o mesmo ainda cresceu co uma religião etc!
Ótimo texto. Compartilho dos mesmos pensamentos e até hoje me indago com Araya e seu trabalho. Sinto-me, de certa forma, enganado ouvindo algumas coisas do Slayer, mesmo gostando do som da banda.
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