segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Apenas Marionetes


Já participei de algumas discussões sérias, mesmo de mesa de bar, de grupos de pessoas engajadas, de certa militância virtual cultural e real, já tive outros blogs, já fiz parte do movimento estudantil e de partido político. Já participei de manifestações, marchas, encontros políticos, estudantis, etc. Tudo isso como forma de melhorar alguma coisa ao meu redor. E confesso que ainda me angustio com a realidade ao meu redor e esse blog é uma das formas que tenho de expor um pouco o que eu penso. Claro que nada aqui contribui diretamente para nenhuma mudança no cenário político, econômico e cultural em que vivemos.

Somos apenas marionetes no mundo. Vejo o mundo de forma pessimista e acho graça das formas de se pensar melhorias para a sociedade. Vejo gente querendo contribuir com alguma coisa, querendo fazer trabalho voluntário, querendo entrar pra partidos ou criando projetos sociais ou ONGs como forma de se melhorar alguma coisa. Melhoras são possíveis sim, mas querer mudar alguma coisa é algo mais difícil e ninguém realmente quer ou acredita ser possível.

Inclusive, grandes camaradas meus acreditam na disputa pelo poder. Mudança através de eleições no atual sistema econômico em que vivemos. Esse filme já foi visto muitas vezes e eu não acho a mínima graça vê-lo de novo. Por outro lado, propor mudanças radicais soa como ingenuidade ou utopia.

Estava lendo na Revista Cult de dezembro (Samuel Beckett) sobre um projeto de uma biblioteca numa comunidade carente como forma de aproximar as pessoas daquele lugar aos livros. Projeto louvável a princípio, assim como, talvez, trabalho voluntário com profissionais de saúde. A questão é que para muitas pessoas a ideia se fecha nesse momento. Põe-se um ponto final e tudo se resolve. Como resolver o acesso das crianças daquela comunidade a educação de qualidade? Do emprego aos pais? A qualificação? O problema da violência que atinge não só lá, mas a toda cidade? A biblioteca é suficiente? A ONG é suficiente? O voluntariado é suficiente? Não é.

Levar cultura e esportes ajuda um pouquinho, mas não resolve problemas estruturais que precisam ser resolvidos (acesso a saúde de qualidade, educação e oportunidades de emprego).

Há quase 2 meses assisti ao documentário Zeitgeist II Adenddum e escrevi alguma coisa aqui. De lá pra cá sempre penso nas possibilidades de mudança na sociedade de acordo com o Projeto Vênus. O Projeto Vênus consiste no avanço da sociedade através da tecnologia e do desenvolvimento sem utilização do capital (dinheiro/moeda). É literalmente a extinção do maior atraso da humanidade: o dinheiro. A proposta do idealizador do projeto (Jacque Fresco) é que o mundo possa finalmente evoluir e se desenvolver sem os entraves do dinheiro e do sistema capitalista. A ideia é completamente louca a princípio e sem sentido e pra quem assiste ao documentário a sensação é de pisar em nuvens.

A justificativa é que já temos tecnologia para muitas coisas, inclusive cura de doenças, acabar com a fome, o desemprego e dar educação e saúde para toda população do mundo, dentre outras coisas. E a coisa é mais simples do que se possa imaginar. Entretanto, o problema são as Corporações e a própria população que já tão massificada não acreditaria ou entenderia a possível mudança.

Sem o dinheiro trabalharíamos sem receber um centavo. Você cozinheiro, mecânico, técnico em informática, médico, dentista, professor, motorista, cientista, etc, trabalharia "de graça" e em troca teria acesso a muitas outras coisas que hoje são necessárias através do dinheiro.

Temos tecnologia hoje para fazermos metrô, trem bala, duplicar ou triplicar rodovias, construir navios, alimentar toda população e viver de forma confortável e sustentável. Poderíamos ir de Campos ao Rio em 1 hora ou menos por metrô. Seria mais rápido e muito mais seguro. Não precisaríamos correr riscos nas estradas, perder tempo em engarrafamentos, confusões de trânsito, etc. Poderíamos viajar muito mais e adquirir muito mais cultura visitando outros lugares. Tudo isso a custo zero.

Uma das minhas dúvidas era: como fazer para que o trabalhador se sinta motivado se ele não vai ter salário? A resposta é mais simples do se possa imaginar: Precisamos de dinheiro para comprar remédios, alimentos, roupas, e gastar com lazer da maneira que bem entendemos. Se tivermos acesso a tudo isso (coisa que a grande maioria da população não tem) trabalharemos motivados. Hoje temos vários profissionais com Ensino Superior desempregados. Seja porque os empresários não querem contratar para economizar, por "N" razões (gastos com impostos e direitos trabalhistas ou por questão de lucro), ou também porque o governo não consegue abarcar a quantidade de profissionais que se forma hoje no mercado. Com o fim dos impostos e o dinheiro, todos trabalhariam e ajudariam na sociedade de forma geral. Em troca teriam conforto, lazer, alimento e roupa. Um exemplo burguês seria: Todas as casas poderiam ter ar condicionado 24 horas nesse calor infernal que tem feito. Exatamente como as casas nos Estados Unidos. Existe tecnologia para ar condicionado, certo? Existe um monte de gente parada, certo? Chamem essas pessoas para trabalhar e se qualificar.

Segue mais um exemplo: O cozinheiro trabalha 5 horas por dia no restaurante. Faz comida para todos que estão com fome e lá querem comer. Em troca ele ganha atendimento médico gratuito, odontológico, direito a ir em qualquer loja num shopping e pegar a roupa que ele precisar, ir a algum bar ou restaurante e também consumir o quanto quiser. Nas férias poderá viajar a qualquer cidade que lhe seja agradável. Poderá se hospedar onde quiser. A pergunta é: esse profissional será ou não mais motivado do que no atual sistema em que trabalha 8 horas por dia, 5 vezes por semana, é explorado e não tem acesso a todo conforto que gostaria?

As pessoas não precisarão trabalhar tanto quanto hoje. E terá espaço para todos contribuirem com seu conhecimento. Mais universidade e escolas poderão ser criadas. Mais chances das pessoas estudarem. Mais médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos nos hospitais. A burocracia não existiria mais. Alguns empregos seriam extintos. Outros seriam criados. As máquinas através do avanço da ciência e tecnologia assumiram muitas coisas. Não teriam mais garis por exemplo. Carros limpariam nossas ruas. Teria muito mais educação e cultura. A sociedade não sofreria com os entraves das dificuldades do capital, como o hospital que teve a luz cortada porque a prefeitura não pagou ou a rua que está esburacada porque não tem verba para refazer o asfalto, ou as rodovias que matam centenas porque não têm verba para serem duplicadas. Ou as pessoas que morrem porque não conseguiram atendimento pelo SUS.

Não sei quando as pessoas vão acordar para isso e como mudar tudo isso em que vivemos. Talvez nem haja mesmo uma forma de mudar. Talvez as coisas fiquem piores do que já estão. Esse sistema talvez tenha falhas, assim como o atual em que vivemos, mas cabe a todos nós começarmos a pensar em algo diferente. E apesar de tudo, uma coisa é certa: enquanto vivermos em busca do lucro a qualquer custo, do sonho burguês individual, da competição acirrada e de toda ganância, inveja e mesquinharia que são produtos do capitalismo, estaremos completamente fodidos. Enquanto reproduzirmos esse discurso capitalista que vemos ser repetido diversas vezes na televisão e na mídia ou pelos políticos e seus partidos caminharemos ainda por muito tempo na lama como marionetes das marionetes.

5 comentários:

Rodrigo disse...

Lendo o que você escreveu, lembrei disso aqui:

"Por esta razão, também o Marx esotérico é totalmente não utópico e anti-utópico. No caso dele, não se trata nem do paraíso em terra nem da construção de um novo ser humano, mas sim da superação das exigências capitalistas feitas ao ser humano, de um final das catástrofes sociais produzidas pelo capitalismo. Nem mais nem menos. O fato de isto só ser viável, se for superada toda a história acontecida até o presente como uma história de fetiches, não reside na arrogância da crítica, mas sim na arrogância do próprio capitalismo. Mesmo após o capitalismo, continuará havendo doença e morte, dor-de-cotovelo e gente calhorda. Só que não haverá mais nenhuma pobreza paradoxal em massa, produzida através de produção abstrata de riqueza; não haverá mais um sistema autonomizado de relações fetichistas nem formas sociais dogmáticas. O objetivo é grande, exatamente porque, medido pela exaltação utopística, mostra-se relativamente modesto, e não promete nada mais que libertar de sofrimentos totalmente desnecessários."

na íntegra em http://www.criticaradical.org/leituras_de_marx.htm

Anônimo disse...

As pessoas podem pensar neste modelo como impossível quando se esquecem que o dinheiro, assim como todas as formas, as cadeias, a burguesia, o CAPETALISMO e todo o resto foram construídos. Tudo que é construído pode ser desconstruído, não é mesmo?

agitadorcultural disse...

Obrigado pelas contribuições. Apesar de eu concordar com Marx, este documentário Zeitgeist II, deixa claro que a opção de saída do capitalismo não seria o socialismo. Exatamente porque o socialismo AINDA trabalha com o DINHEIRO como uma forma de mediar as negociações. Não que o socialismo seja de todo errado, mas acabar com o dinheiro faz-se como saída urgente para o desenvolvimento humano. E é exatamente como o Anônimo das 14:50 falou: tudo pode ser desconstruído.

Raposo disse...

Olá Caro Amigo

Concordo com quase tudo o que disse em cima.
Eu próprio já vi os documentários e, também eu resisti a inicio, e fui-me habituando mais tarde, sendo que agora faço os possíveis por convencer o maior número de pessoas disso.
Vi, contudo, que possa ter ficado com uma ideia ligeiramente errada relativamente aos empregos e à motivação dos trabalhadores.

A meu ver, pelo menos, não vai haver sequer necessidade de ser preciso de dar algo em troca para as pessoas trabalharem, elas vão fazer isso porque querem, porque gostam.

Se você olhar para uma criança, ela está cheia de sonhos e ideias, quer ser um astronauta, um médico, um pintor, mas quando vai crescendo percebe que algumas profissões não vai conseguir, outras não dão dinheiro, e o seu sonho morreu com a sua juventude. Imagine agora que todos nós podemos ser aquilo que sonhámos. Logo à partida vamos estar motivados a trabalhar, pois vamos fazer aquilo que gostamos, sem restrições. Isso sozinho é a maior motivação de todas. Claro que teremos todos os benefícios que disse em cima, ainda para mais.

Agora para quem diz que, por exemplo, se toda a gente for fazer aquilo que gosta, quem é que vai vender coisas às pessoas, ou vai limpar as lojas, etc. já que ninguém gosta de fazer isso? Ora tal como o meu amigo disse, vão existir máquinas para todos esses trabalhos rotineiros. Até para cozinheiros. Assim só vão mesmo sobrar os trabalhos interessantes e criativos, que são os que as pessoas gostam.

E mais, ninguém vai ser obrigado a trabalhar. Vai haver lugar para aqueles que preferem descansar o dia todo, ou que acham que não têm contribuição a dar à sociedade.
Mas a verdade é que toda a gente tem algo a contribuir. O seu trabalho pode ser criar e educar suas crianças, pode ser tratar de 2 árvores que embelezam uma rua. Pode ser até ir passear de manhã ao café e contar uma piada que dá um sorriso às restantes pessoas.

A parte interessante é que, com uma sociedade tão bela e funcional como esta, toda a gente vai querer fazer o máximo por ela para a evoluir e preservar, e vão gostar de fazer isso.

Diga lá que não era um mundo onde gostaria de viver? ^^

Pelo menos é assim que eu vejo...

Cumprimentos

agitadorcultural disse...

Essa é a ideia, Raposo! Sempre falo com meus amigos desse documentário. Mas nem todo mundo assiste... uma pena.

abraço