segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Festival de Teatro: 12 anos Trianon

Não registrei aqui quaisquer comentários sobre a programação das comemorações dos 12 anos do Teatro Trianon. Pude prestigiar algumas delas e constatar sempre o teatro lotado nos dias em que fui: Juca Chaves, Chico Anysio, Paulo Betti, Simone Spoladore. Os preços estavam bem acessíveis e a variedade de peças não pesou tanto para a comédia, que é sempre o gênero preferível das peças cotadas para se apresentarem aqui.
 
A melhor de todas foi a da Simone Spoladore, o monólogo Louise Valentina. Uma peça belíssima sobre a personagem de Guido Crepax, Valentina e a atriz Louise Brooks. A peça conseguiu retratar de forma poética a atmosfera dos quadrinhos de Guido Crepax com jogos de luzes, sombras, música e jogos de imagens. A atriz conseguiu transmitir toda sensualidade da arte erótica do quadrinista italiano.
 
Louise Valentina: Sucesso primeiramente na Itália, Valentina conquistou o mundo formando uma legião de fãs e é cultuada até os dias de hoje e tida como best-seller na Itália e Europa. Bissexualidade, êxtase auto-erótico, sadomasoquismo e devaneios oníricos povoados de referências à Art Nouveau.
A obra de Crepax influenciou grandes nomes dos quadrinhos adultos, como Manara e Serpieri. Valentina estreou discretamente, como coadjuvante em uma série de ficção nas páginas da Linus - revista que inventou o gênero de "quadrinhos adultos". O herói era Neutron, um detetive que usava seu poder paralisante para combater o crime.
 
Em todas as peças apresentadas, ao final de cada apresentação, a presidente da fundação, Auxiliadora Freitas, fazia uma babação de ovo do artista e da prefeitura de Campos, especialmente da Ex-Prefeita Rosinha, que mesmo afastada ainda era chamada de Prefeita. Além de entregar flores aos artistas homenageados (isso quando a peça tinha mais de 3 atores e era entregue apenas ao artista "global", flores e placa, deixando os demais a ver navios), ela falava sem parar, com aquela resgação de seda de "eterna governadora" à outras coisas mais.
 
Campos ainda vive e viverá por muitos anos esse ranço de cidade pequena em que tudo tem que se falar da Prefeitura ou do Político local que fez ou ajudou. Será que não dá para apenas ir ao teatro e deixar a peça terminar de forma natural, deixando apenas ao artista o poder da palavra? Campos é uma cidade que gosta de parecer moderna, mas respira os ares daquelas cidadezinhas com Coronéis narradas nos livros de literatura. Se aproveitar de um auditório lotado como o do Trianon para usar deste palco e fazer política-eleitoral é demonstrar a pequenês da cabeça das pessoas que estão à frente destes órgãos públicos, sem considerar a falta de educação aos que pagaram apenas para ir ao teatro se entreter com um pouco de cultura que, às vezes, nos chega por estas bandas.
 
Campos deve crescer muito nos próximos anos. Vemos aos poucos a cidade se modificar, principalmente com novos empreendimentos imobiliários, gastronômicos e de consumo. A tendência é que cada vez menos os outros saibam onde estamos e as chances de numa cidade com mais diversidade acontecer discursos políticos de grupelhos locais deve ser cada vez menor. Existirá ainda aquela TV local nos moldes como é feita? A MultTV já demonstra considerável avanço em como fazer programas interessantes na cidade, explorando ideias e assuntos do cotidiano.
 
Quanto ao Teatro, espera-se muito mais do Trianon. Além de peças com atores consagrados no Zorra Total e A Praça é Nossa, devería-se incentivar peças de outros gêneros, diferentes das comédias que sempre chegam à cidade. Adoro comédias, mas a diversidade ajuda a elevar o nível cultural de nossa cidade, mesmo sendo restrito à classe média. E abaixo à cafonice das homenagens à ex-prefeitos e prefeitos. Teatro é para Arte e não para os grupos político-eleitoreiros.
 
Próxima peça no Trianon: "Maria do Caritó" com Lília Cabral - 3, 4 e 5 de Setembro, 2010.
ps: texto enviado por e-mail.

Nenhum comentário: